quinta-feira, 2 de outubro de 2008

1.3 A contracultura

A contracultura aparecia como resistência aos modelos impostos pelo capitalismo – embora também não fizessem defesa ao modelo socialista – e, variando entre o desbunde e formas mais politizadas, criticavam de uma maneira geral o autoritarismo e os valores da classe média.
Naquele momento a imaginação estava em alta, o que é claramente identificado em lemas como “A imaginação no poder”, um dos lemas das manifestações na França daquele ano.
Entre ditaduras militares, o crescimento da sociedade materialista e consumista e o engajamento político com a classe operária, jovens embarcavam em diferentes graus de psicodelia acreditando que era possível mudar o mundo e contestar a ordem moral até então vigente na sociedade ocidental.

Para os especialistas, a obra inaugural da contracultura no mundo é o poema “Uivo” de Alain Ginsberg, publicado em 56, um longo poema em seis partes, onde descreve a falência moral dos EUA e o fracasso de sua geração em mudar alguma coisa nas próprias vidas. Ginsberg fazia parte da chamada “Beat generation”, um grupo de jovens intelectuais (chamados de “beatniks”) que contestavam o consumismo e o otimismo do pós-guerra americano, o anticonsumismo generalizado e a falta de pensamento crítico. O termo, entretanto, é atribuído ao professor americano Theodore Roszac, autor em 1969 do livro “O fazer de uma contracultura – Reflexões em uma sociedade tecnocrata e a jovem oposição”, que buscava fazer um elo entre os protestos estudantis, o movimento hippie e a recusa à sociedade industrial.

No Brasil - muito em função da ditadura militar que censurava a difusão artística - a produção e o circuito cultural se viam restritos a uma certa marginalidade e nomes como Torquato Neto, Waly Salomão, Luiz Carlos Maciel, Rogério Sganzerla, além dos artistas tropicalistas, foram nomes importantes para a contracultura brasileira.
O termo contracultura se refere tanto ao conjunto de movimentos de rebelião da juventude que marcaram os anos 60 - como o movimento hippie, a música rock, a movimentação nas universidades, as viagens de mochila e o uso deliberado de drogas - como também a um certo espírito de contestação e enfrentamento da ordem vigente, de caráter profundamente radical e divergente às forças mais tradicionais de oposição a esta mesma ordem dominante.

Para Carlos Alberto Messender Pereira, trata-se de um tipo de crítica anárquica que, de certa maneira, “rompe com as regras do jogo” em termos de modo de se fazer oposição a uma determinada situação, tendo assim um papel fortemente revigorador da crítica social.
Para o crítico literário Carlos Nelson Coutinho, a contracultura no Brasil foi mais um movimento “extracultural”, se colocando mais como uma crise do que uma tentativa de resolvê-la - por não solucionar certos impasses da produção cultural em si. Entretanto, em um momento onde as concepções estruturais dos problemas político limitavam de certa forma seu conteúdo, o abstracionismo estrutural da contracultura evidenciou algumas contradições e trouxe para o plano cotidiano o debate político.

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